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“Dia das Mães”, dia de “sair do armário”?



por Edith Modesto

Já de início, respondo: penso que o “dia das mães é um péssimo dia para “sair do armário”!
Os/as jovens acham que “mãe sempre sabe”. Eu costumo receber mensagens dizendo: “Eu dei todas as dicas, como minha mãe pode não saber?” E, geralmente, elas não sabem.
A onisciência materna é um conhecido mito em que as pessoas crêem, com grande prejuízo para as mulheres que se tornam mães. Às vezes, essa obrigação de saber tudo fica quase como comprovação de amor: “Ah, uma boa mãe teria percebido...” “O que a mãe estava fazendo que não viu nada?”
Será que as pessoas não imaginam o peso que é uma responsabilidade como essa? Uma mãe saber tudo sobre seus filhos? Onisciência é um dom divino, não humano.
Por outro lado, o saber dá poder. E esse jogo se torna muito perigoso! Esse mito de que “mãe sabe tudo” incita as mães a uma conhecida prática de, a qualquer dúvida ou preocupação, vasculhar tudo que é de seus filhos: bolsos, gavetas, mochilas; pesquisar na Internet os sites visitados, ler as mensagens enviadas e, inclusive, seus diários, bilhetes manuscritos, cartas...
Se, por um lado, o que impulsiona as mães a quererem saber sobre os filhos é a vontade de ajudá-los frente às dificuldades, por outro, essa prática de vasculhar tudo deixa as mães muito angustiadas diante de situações inesperadas – que fazem parte de naturais ensaios de independência de seus filhos –, causadoras de desavenças familiares, de mágoas e até de fobias que as pessoas carregam por toda vida.
A verdade é que, muitas vezes, os filhos e filhas têm de suportar um desrespeito camuflado de amor e cuidado materno, na verdade uma ação agressora e invasiva da intimidade deles.
Por outro lado, como o ser humano é muito complexo, há situações na vida em que saber sobre os filhos mais do que o recomendável chega a ajudar, torna-se uma bênção. Por exemplo, quando os filhos, as filhas são homossexuais.
Do ponto de vista das mães, quando ela percebe ou descobre a homossexualidade de um(a) filho(a), mesmo sem nada dizer, ela inicia o processo de aceitação, uma reinvenção interna lenta e dolorida, já que a diversidade sexual não é naturalizada na nossa cultura e, infelizmente, em nenhuma delas. Mas o processo de aceitação se torna mais fácil pra essa mãe, do que para outras que nunca imaginaram que aquilo pudesse acontecer. Mãe nem sempre sabe!
Geralmente, os homossexuais criam a fantasia que suas mães percebem de algum modo sua orientação homoafetiva. De acordo com o psicólogo e psicoterapeuta Klecius Borges, que dá apoio voluntário ao GPH – Grupo de Pais de Homossexuais, “essa fantasia atua como uma defesa psíquica contra o medo de não ser aceito pela mãe. Seria como um desejo inconsciente de que haja uma “pré-aceitação”, uma condição que certamente reduz a ansiedade e projeta um final feliz.”
Ainda de acordo com K. Borges, a maioria dos filhos, por exemplo, avalia as evidências de homossexualidade como muito claras: eles não gostam de futebol, não apresentam namoradas em casa, embora tenham várias amigas, geralmente tem um melhor amigo, é muito vaidoso, não diz aonde vai à noite e nos finais de semana e passam horas e horas na Internet.
O problema é que as mães entendem sempre esses comportamentos – um pouco diferentes do esperado –, de outras maneiras: “Meu filho é tímido, ele é mais amoroso, é exigente, é mais independente do que os outros...”

Qualquer resquício de dúvida consciente que as mães possam ter, elas negam, elas racionalizam, jogam aquilo para o inconsciente, como uma defesa contra a angústia, contra o sofrimento.
Muitas vezes, a homossexualidade é evidente para todos, menos para a mãe. Ela pensa que é uma fase, alega que são “as más companhias”... Não é somente o preconceito consciente, mas uma defesa da dor que, ela sabe, a revelação irá causar, não somente a ela, mas a seu filho e a toda a família.
Assim, concluímos que, embora revelar-se homossexual não é um presente do “dia das mães” apropriado, é ótimo que os filhos e filhas dêem pistas de sua homossexualidade para suas mães. Elas irão se preparar para aceitá-la como uma condição natural e espontânea das pessoas, assim como a heterossexualidade.
Essa mãe irá passar a uma fase de querer saber mais sobre a diversidade sexual, vai querer conhecer outras mães como ela e conversar sobre o assunto, tirar dúvidas conceituais, discutir ações que ajudam a família. E feliz daquela que descobrir o GPH – Grupo de Pais de Homossexuais.

GPH – Associação Brasileira de Pais e Mães de Homossexuais
(www.gph.org.br)
(11) 3031 2106

Artigo publicado em 2011
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