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Noel Rosa sem preconceitos


Se toda unanimidade é burra, como disse Nelson Rodrigues, não seria Noel Rosa a escapar das críticas. Nome fundamental da música popular brasileira, o compositor hoje tem quem o acuse de racista e antissemita.

Em seu show 'Obra em Progresso', ao tocar 'Feitiço da Vila', Caetano Veloso levantou a bola: "É um clássico do qual ninguém esquece, que todo mundo conhece e que todos nós amamos muito. Mas sempre me deixou com uma pulga atrás da orelha, porque é uma canção de afirmação da classe média letrada contra os sambas do morro e próximos do candomblé. Basicamente, é uma canção racista. E é chocante pensar isso porque é uma canção do Noel e Noel é um dos nossos pais fundadores", afirma ele.

"A acusação de que Noel foi racista, no sentido de contra os negros e mulatos, é ridícula", defende Carlos Didier, pesquisador e autor de 'Noel Rosa: Uma Biografia' ao lado do jornalista João Máximo. "O samba era, na década de 1920/1930, um gênero ligado aos negros e mulatos, mestiços de toda ordem. A vitória do samba — sua ampliação estética, sua aceitação — foi uma vitória dos negros e mulatos. E também de mestiços de coração, como era o caso de Noel Rosa", explica Didier.

Noel Rosa teve 18 parceiros entre negros e mulatos, como Ismael Silva, Bide, Canuto, Cartola, Gargalhada, Manuel Ferreira, Zé Pretinho e outros. Cartola, mais que parceiro, era grande amigo de Noel, que o visitava frequentemente na Mangueira. "Deolinda, esposa de Cartola, dava banho em Noel dentro da bacia. Punha nele um pijama velho do marido e dormiam os três na cama do barraco de Cartola", conta Didier.

Noel é tachado de antissemita por conta de referências nas músicas 'Cordiais Saudações' ("ando empenhado nas mãos de um judeu") e 'Quem Dá Mais?' ("Quem arremata o lote é um judeu/Quem garante sou eu,/Pra vendê-lo pelo dobro no museu"). "Quando ele cita judeus de maneira gozativa em duas de suas canções, está fazendo referência ao personagem que ele chama de prestamista, que era o homem que emprestava dinheiro a juros, citado em várias músicas dele", explica João Máximo.

Embora na época os preconceitos fossem muito mais tolerados do que nos dias de hoje, o artista, pelo contrário, sempre mostrou ter uma visão à frente de seu tempo. É dele, por exemplo, 'Mulato Bamba', samba elogioso a um rapaz gay — que guarda muitas semelhanças com Satã (que depois adotaria o "Madame"), famoso malandro da Lapa, gay assumido, de quem Noel era amigo.

"Os homossexuais eram caçados como ratazanas na Lapa e ele faz um samba que fala com compreensão, simpatia e até admiração. É o primeiro homossexual tratado com seriedade na música", observa João Máximo.

É muito contada a preferência de Noel pelos que viviam à margem — "gentinha", criticavam seus vizinhos de Vila Isabel. Eram os compositores dos morros, malandros, mulheres de cabaré. Ceci, grande amor de Noel, em certo momento se viu dividida entre ele e o ator Mário Lago. E lembrava que, apesar do discurso do ator pelos desfavorecidos, era Noel quem convidava mendigos para comerem com ele à mesa.

Fonte: O Dia
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