News
Loading...

Siga-nos!

O dia do Namorado - artigo de Moa Sipriano

7 de julho. Ele estava desesperado. Faltando cinco dias para a Grande Data, a busca frenética por um novo companheiro, mesmo que apenas "trepante", deixava Alcides alucinado. Não, de jeito nenhum, ele definitivamente não estava disposto a passar o Dia dos Namorados sozinho, ainda mais numa cidade como São Paulo.

Como explicar o "estar sozinho" para a santa mãezinha moderninha ou aos amigos mais chegados, principalmente para aquele bando de bambees invejosos do salão onde ele trabalha quinhentas horas por semana, lavando, passando e engomando os cabelos insossos daquelas raxas medonhas de feias, porém ricas, que sonhavam em se tornar ao menos dois por cento da Luiza Dijon Brunete, aquela modelete que disse recentemente que ainda não transou com mulheres?

Ainda mais ele, Alcides, um gaúcho loiro escultural de 28 anos, dono de um olhar verde profundo e misterioso, daqueles que você goza na calça só de imaginar; um homem de um sorriso coberto de dentes perfeitos e ofuscantes de tão luminosos, e também de coxas e nádegas exaustivamente torneadas, cobertas de pêlos delicados, quase brancos, perfumados, tudo à custa de muita academia e sessões intermináveis de massagens modeladoras com cremes carerérrimos da última moda.

Ah, claro, não posso me esquecer de citar o "material" de Alcides, coisa de deixar qualquer machão que se acha... de queixo caído; porque Alcides, meu amor, tem definitivamente "o" poder no meio das pernas (e segundo fontes fidedignas, dizem por aí que o cara é um potranco na cama, um ser totalmente insaciável).

Enfim, Alcides é um cara de parar uma Av. Paulista a qualquer hora do dia (se bem que, sejamos sinceros, qualquer um para a Paulista nesses tempos de mega engarrafamentos).

Alcides se orgulha de suas conquistas amorosas. É um desfile permanente de garotos estonteantes que costumam aparecer ao seu lado de tempos em tempos.

Em qualquer bar, boate, festa ou mesmo numa cervejinha às sextas-feiras junto com a galera, lá está Alcides, o loiraço, à tiracolo com algum machinho-19, desses que a gente caça fácil, fácil ali, pertinho do Masp, todas as noites (desde que, é claro, você pague muito bem pela meiga companhia).

Esses namoricos de fachada (ou melhor, encontros fugazes) costumam durar três, no máximo sete dias, dependendo do humor de Alcides ou de sua capacidade nata de perder o interesse sexual no parceiro da hora em questão de minutos, depois de apenas uma noite e olhe lá.

Alcides Gaúcho: um gozo, uma nota de cem, um frasco de xampu e um adeus!

Cinco dias, ai meu Deus, cinco dias e o fofo-blondie continuava sozinho. Cadê os bofes de aluguel? Tá tudo locado para o dia 12? Virge Maria do Bom Pinto!

Bom, sozinho, sozinho não seria bem o termo exato para se usar com Alcides. Na verdade, ele tem um enrosco oculto da multidão bambeestica. Ele mantém uma relação mal resolvida com Dirceu, um carinha meigo que ele havia conhecido no ano passado - quando veio de mala e cuia pra Sampa, com mamãe a tiracolo - num desses congressos de apresentação de xampus que costumam infestar São Paulo de vez em sempre.

Tudo foi lindo e maravilhoso por um tempo acima do costumeiro para os padrões de Alcides. Ele tenta disfarçar, mas é visível que está apaixonado por Dirceu, porém jamais teve coragem de assumir este sentimento a si mesmo. Muito menos para os outros.

E enquanto isso, Dirceu permanece bunitinho lá em Jundiaí, trabalhando feito um escravo num salãozinho de quinta nos cafundós do bairro Medeiros, tendo apenas um dia na semana (e olhe lá) para encontrar o "namorado".

Alcides vem toda segunda-feira para Jundiaí, depois das sete, para passar algumas horas na companhia de Dirceu. A relação é aquela coisa trivial: uma pizza, uma cerveja, uns pegas dentro do carro, ocultos numa rua escura; uma chupeta, um beijo e um "até semana que vem".

E de terça-feira em diante, Alcides lava a égua em suas eternas e irresistíveis puladas de cerca à procura do próximo morenão-vitrine-da-oscar-freire para desfilar diante dos bibáceos paulistanos.

Por que Alcides não investe mais em Dirceu, no que se refere aos seus sentimentos mais profundos? Por que Alcides não revela a verdade ao companheiro caipira, sonhador e ingênuo do interior que acredita piamente em tudo o que o seu anjo-loiro-com-sotaque-deliciosamente-cantado lhe diz toda segunda-feira, através de frases tiradas de pára-choques de caminhão?

Por que Alcides se preocupa ensandecidamente em apenas desfilar com rapazes bonitos em lugares públicos, mesmo tendo que pagar pelo desfile de corpos vazios que nem na cama conseguem satisfazê-lo plenamente, coisa que Dirceu (que, aliás, é um moreno-21 jeitosinho), o ingênuo, sabe como lhe dar todo o prazer envolto em carinho que ele tem direito, além de devotar-lhe amor e fidelidade incondicionalmente?

É triste saber que Dirceu, tadinho, juntara suas economias para dar ao namorado, no Grande Dia, o mais sofisticado dos celulares, pois acredita que esse aparelho servirá de elo permanente entre ambos.

"Agora toda vez que ele pegar no Sony, vai se lembrar de mim!", pensa Dirceu.

Ô bambeezinho ingênuo, sô.

É desolador constatar que toda vez que se encontram, Alcides promete mundos e fundos a um Dirceu maravilhado, embotado na ignorância, e que ainda sonha em um dia trabalhar junto ao amado num daqueles luxuosos "rerstailistis-personal-center-beautiful-strangers" da maravilhosa Cidade Cinzenta.

Já imaginou, que glória, viver ao lado daquele loirão fantástico, tesudo, bundudo, pintudo... cortando e fazendo luzes nos cabelos da Débora Seca ou da Adriana Galisdeu todos os dias?

Bom, essa história ridícula, infelizmente real, acontece com uma porção de gente que não sabe dar valor ao companheiro que tem.

São gays que preferem mil vezes galinhar eternamente, sempre à procura do cacete perfeito ou do cu mais apertado ou, o que é muito pior, de corpos sem alma, sem luz, sem cor e sem essência alguma. Corpos profissionais que não refletem as afinidades dos apaixonados.

São gays que mesmo tendo um alguém para amar, preferem investir em corpos alugados sem garantia de nada, onde o que menos importa são as afinidades e os sentimentos, e apenas a performance erótica tenta suprir as necessidades de atenção, carinho e afeto que realmente necessitamos para uma existência serena e feliz.

São gays compromissados que desrespeitam a si mesmos, consumindo corpos que simplesmente se movimentam mecanicamente e transpiram e soltam suas porras ralas sobre eles em questão de minutos, entre gemidos falsos, distantes e frios.

E depois de tudo, naturalmente esses corpos de aluguel ficam loucos para abandonar rapidamente aquela "safadeza", pegar as notas de cinqüenta sobre o sofá da sala e sumir o mais rápido possível de suas vidas, para logo buscar o sustento na companhia de outro corpo carente que pague pelos seus esforços sexuais sem amor.

Nesse próximo Dia dos Namorados, pra você que tem um parceiro fixo já faz algum tempo, que você saiba valorizá-lo, não apenas com presentes caros ou da moda (tá certo, a gente adora dar... presente!), mas com um gesto de carinho sincero, com a renovação dos votos de fidelidade e amor, com momentos de descontração à dois, nem que seja por algumas horas apenas, para rir e se emocionar com as gostosas memórias do passado, de como tudo começou, das trapalhadas que fizeram antes de assumir-se um para o outro, por exemplo.

E se você está sozinho, simplesmente não corra atrás. Não se jogue de cabeça em qualquer boca, cu ou pinto que aparecer na sua frente só pra dizer ao mundo ou para as amigas que você "tem namorado". Afinal, quanto mais você procura, menos chances tem de encontrar.

Aproveite a data - caso você dê tanto valor assim para datas especiais - para se curtir, até mesmo se presentear, se for o caso (ame-se a si mesmo).

E o mais importante: saiba se dar o devido valor, pois você é lindo, é inteligente, é sensual, é carismático e é único.

Levante a cabeça e siga o seu caminho, sempre olhando para frente. Pode ter certeza de que, na próxima esquina, à direita, você vai esbarrar com o cara ideal, que vai estar justamente indo de encontro a você, na hora certa, no momento exato.

Daí, bambee, ano que vem a gente volta a se cruzar por aqui, cinco dias antes da Grande Data, para que eu possa contar pra você o que é viver o verdadeiro Dia do Namorado... futuro marido... enfim, dia de um grande amor.

Acho que a partir de hoje, os "Alcides Gaúcho" vão aprender a lição.


Moa Sipriano - literatura gay de qualidade - www.moasipriano.com

Share on Google Plus

Sobre Unknown

O Noticia G é um blog de notícias LGBT sob o princípio da diversidade. Portanto, divulgamos tudo o que cremos ser relativo a todo SER HUMANO. O blog NOTICIA G não mantém qualquer vínculo empregatício com seus colaboradores/colunistas. Todos o fazem por livre e espontânea vontade. As opiniões expressas pelos colaboradores/colunistas não refletem necessariamente a opinião do blog. Se você detém direitos sobre qualquer assunto/mídia veiculado no blog, favor contatar para retirarmos (noticiag@hotmail.com)
    Blogger Comment
    Facebook Comment

0 comentários :

Postar um comentário