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Adoção gay: o que não se diz por João Marinho



Ao impedirem a adoção por casais de mesmo sexo, conservadores prejudicam crianças indefesas


por João Marinho

jornalista

Adoção de crianças por casais do mesmo sexo é daqueles assuntos que parecem nunca sair de pauta. A discussão até fica em segundo plano por um tempo – mas, no momento seguinte, renasce com força e provoca manifestações apaixonadas, contra e a favor.

Recentemente, um desses “renascimentos” teve a Dinamarca como mãe. Fazendo jus a uma, digamos, tradição nórdica de estar à frente nos direitos de gays e afins – a própria Dinamarca foi a primeira nação a reconhecer as uniões gays, há exatos 20 anos –, o parlamento do país passou a permitir que crianças tenham um lar homoparental.

Foi um parto difícil: 63 votos a favor, 53 contra e incríveis 64 abstenções, segundo o site Mix Brasil. Tão difícil que, na Europa, poucas nações passaram pela experiência: Espanha, Holanda, Bélgica e a também nórdica Suécia.

Os motivos de tanta dificuldade são claros: basta falar em crianças criadas por casais de mesmo sexo que um medo irracional se acende em determinados setores da população.

Em sociedades em que mães solteiras e “produções independentes”, homens com guardas integrais de filhos, viúvos e viúvas, casais divorciados e famílias mistas com filhos de diferentes casamentos vivendo juntos não são novidade, as pessoas começam, de repente, a se referir ao modelo nuclear – papai, mamãe e filhos – como se fosse o único possível e como se os demais necessariamente produzissem adolescentes loucos e jovens marginais.

Parte da responsabilidade, na minha opinião, se deve à psicanálise das primeiras décadas do século 20 e sua insistência num modelo que privilegia(va) a família nuclear, a interação com “pais-modelo” e os papéis tradicionais masculinos e femininos como determinantes da personalidade em níveis inconscientes.

Não sou psicanalista – mas, desde que percebi que postulados como o Complexo de Édipo não me convencem muito quando está em pauta um homossexual, passei a privilegiar uma abordagem cognitivo-comportamental em minhas análises.

Seja como for, é fato que a própria psicanálise tem se atualizado ao longo do tempo. Uma atualização que não é acompanhada pela população e muito menos se permite que seja amplamente divulgada. A falta de informação é imprescindível para os interessados em manter LGBTs como cidadãos de segunda.

Seguem algumas verdades, portanto: não, não é fundamental que papai e mamãe vivam juntos. Não, a falta de uma mulher ou de um homem no seio familiar ocupando esses papéis não causa desequilíbrio per se. Não, não há base objetiva para afirmar que a orientação sexual dos pais determine a dos filhos – e aqui me permito perguntar um “e se fosse?”. As ciências da psique defendem que a homossexualidade é uma orientação sexual como qualquer outra. A rigor, não haveria problema mesmo se fosse verdade que pais gays “criam” filhos gays.

A questão da adoção, no entanto, vai além. Conservadores e fundamentalistas costumam ir contra ela como se fosse um “direito do casal gay”. Até militantes LGBTs, em sua defesa, às vezes caem nesse equívoco.

Esquecem-se os adversários que a adoção é, antes de tudo, um direito da criança. É o direito de crescer numa família, num lar, com amor, carinho, abrigo, proteção e garantia de saúde, sustento e integridade.

Esquecem-se também de que o fato de eles não gostarem da ideia de crianças criadas por gays, lésbicas e afins não muda o fato de que já há crianças criadas dessa forma.

Crianças que crescerão, sim, com dois pais ou duas mães – e que estarão legalmente desamparadas e sujeitas a traumas e injustiças se eventualmente vier a falecer o/a detentor/a da guarda. Crianças que só terão direito à metade do que deveriam, porque o outro pai, ou outra mãe, não é reconhecido/a pelo Estado.

Ao boicotar a adoção de crianças por casais homossexuais, os conservadores e fundamentalistas não se dão conta de que são mais as crianças, e não os homossexuais que eles tanto odeiam, que estão na mira de suas investidas. São crianças indefesas, que eles dizem querer “proteger”, que eles estão prejudicando.

É preciso que se diga isso, em alto e bom som, para desmascarar tamanha hipocrisia, salvar essas crianças e para que haja mais pais, mais mães e mais famílias nesse mundo tão carente de doçura.

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Sobre Unknown

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