
*Déa Januzzi
*A conversa é entre mulheres, mas a família toda se envolve, sofre, aceita, rejeita, nega, se desespera ou finge que não é com ela. E as mulheres que se apaixonam por mulheres vão levando uma vida às escondidas. Em público, se portam como boas amigas. Não se tocam, não se beijam, não trocam carinhos explícitos. Deixam a intimidade para depois, entre quatro paredes. Ou em bares de gays, lésbicas e simpatizantes (GLS). O medo de causar mais tristeza e desamparo à família é tanto que só se deixam fotografar de costas, sem revelar nomes, profissão e outros detalhes.
Sem consultar a companheira, Rosana (nome fictício), de 38 anos, se prontificou a dar entrevista, nome e profissão e a enviar as fotos do casal por e-mail. Assim fez e cumpriu. Um dia depois, telefonou desistindo, dizendo para procurar outras personagens, pois a namorada tinha terminado com ela ao saber da reportagem. Disse que o pai da companheira poderia morrer de infarto se visse as duas no jornal e que a mãe, muito religiosa, também não aguentaria.
As dificuldades das lésbicas estão no livro Entre mulheres, depoimentos homoafetivos, da professora paulista Edith Modesto, de 72 anos, heterossexual convicta e mãe de sete filhos – o caçula, gay, que faz pós-doutorado na Califórnia, é responsável pelo despertar de Edith para a causa. Ela é autora, também pelo selo GLS, da Editora Summus, de Vidas em arco-íris – depoimentos sobre a homossexualidade e Mãe sempre sabe? Mitos e verdades sobre pais e seus filhos homossexuais. Além de fundadora e presidente da ONG Associação Brasileira de Pais e Mães de Homossexuais (GPH), é idealizadora do Purpurina – projeto sociocultural para jovens gays e lésbicas, de 13 a 24 anos. Edith comanda também diversos projetos de educação sobre a diversidade sexual, com palestras para psicólogos, profissionais da saúde e militantes.
O livro Entre mulheres é uma coletânea de relatos de lésbicas de diversas idades e ocupações que expõem, sem pudores, as descobertas, as angústias, os sucessos e as derrotas colecionados durante a luta por reconhecimento e respeito. Muitos dos depoimentos são desabafos ou pungentes pedidos de socorro. São histórias de vida que a autora recolheu durante anos, no decorrer de sua atividade como pesquisadora e militante de projetos de apoio a jovens homossexuais e seus pais. "O livro traz depoimentos de mulheres homossexuais, mas poderiam ser negras ou em condições socioeconômicas de risco. Meu interesse é a mulher, que muitas vezes sofre duplo, triplo preconceito. É uma obra em defesa dela, que é cidadã e tem direitos que
devem ser respeitados", garante Edith.
*Fonte: Lvro Entre mulheres, de Edith Modesto
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