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Artigo: Trocada(o) por outro(a)


Ela descobriu que o marido tinha um caso com o personal. Ele, que a noiva era amante da amiga. aqui, contam como é a dor de uma traição homossexual

Por Mayra Stachuk e Kizzy Bortolo

Raiva, humilhação, vontade de vingança. Não importa qual a reação de quem descobre uma traição, algumas perguntas invariavelmente passarão pela sua cabeça: Será que é mais bonita? Mais inteligente? Melhor na cama? E enquanto a criatividade viaja na busca dessas respostas, a mente prega ainda outra peça: a de imaginar as cenas de intimidade entre os dois, o beijo, a carícia. Mas há quem enfrente toda essa dor e ainda tenha que processar uma informação surpresa: a traição é, na verdade, homossexual. O que acontece com a cabeça e com o coração nessa hora? O fato de ser trocado por alguém do sexo oposto torna o sofrimento pela traição ainda pior? Assim como todas as questões emocionais, não existe uma única resposta a essa pergunta. Há quem afirme que o fato de o parceiro ter ido atrás de algo que ela não pode dar — a própria anatomia, por exemplo — é reconfortante. E há quem veja isso como um agravante, uma vez que, até onde se sabia, seu parceiro era heterossexual. É o que afirma a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, coordenadora geral do Prosex (Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo). “O que observo é que as reações são muito variadas. Mas a sensação de se ter vivido uma história de amor de mentira, uma farsa, tende a agravar a dor. Assim como piora quando se tem filhos daquele casamento”, diz.

A antropóloga e professora da UFRJ Mirian Goldenberg, que pesquisa traição há 20 anos e lança neste mês o livro Por que homens e mulheres traem? (ed. Record), também afirma que as reações numa situação de traição homossexual são as mais variadas. Ela acredita, no entanto, que se o traído for um homem — ou seja, quando a mulher é que fica com outra —, a tendência é que o choque seja maior, porque ele sente que falhou na satisfação sexual da parceira e enxerga aquela “nova” opção dela como um problema dele. “Fantasiar um ménage à trois é uma coisa, ser trocado por outra é diferente. É mais difícil entender que uma mulher é capaz de proporcionar algo que ele não pode.” Uma empresária carioca e um publicitário que passaram por isso contam como foi.

“Imaginar a cena dos dois juntos me causava enjoo”
V. L. S., 38 anos, empresária carioca

“Conheci meu ex-marido quando ainda estávamos na faculdade. Estudamos juntos e ele foi meu primeiro namorado firme, assumido perante toda a família. Eu tinha, na época, 20 anos e com ele tive a minha primeira relação sexual. Realmente achava que era o homem da minha vida. Apesar de algumas amigas mais próximas comentarem que o achavam sensível demais, eu não via nada de errado no fato de ele ser um homem muito educado e gentil. Aliás, sua extrema ‘delicadeza’ foi o que mais me atraiu.

Quando eu tinha 24 anos e ele 25 nos casamos. Tivemos um casal de filhos, hoje com 10 e 12 anos. Vivemos durante dez anos muito bem, sem maiores conflitos, numa relação, digamos assim, calma até demais. O sexo era regular, mas morno. Hoje vejo isso. Há quatro anos, antes da minha vida e do meu casamento desmoronarem, eu achava tudo perfeito. As coisas começaram a ficar estranhas de uma hora para outra, ele passou a ficar nervoso com frequência, o que não era comum. Dois meses depois dessa mudança de comportamento, resolvi investigar. Descobri a senha do e-mail dele e entrei para fuçar. Eu já estava com uma leve desconfiança de que algo acontecia e fui em busca de respostas. Ele esfriou um pouco comigo e isso me deixou intrigada. Imaginei, mesmo, a existência de uma amante ou algo do tipo, mas jamais pensei que fosse um homem.

“Ele confessou que desde a faculdade sentia uma queda por homens, mas quis me poupar” – V. L. S.”

Um dia, sozinha em casa, tomei coragem e fui fazer uma checagem mais cuidadosa nos e-mails, não apenas na caixa de entrada, mas nas pastas pessoais, itens enviados. Havia muitas mensagens do personal trainer dele, que eu conhecia de vista da academia onde ele malhava — aliás, era viciado em malhação, tinha um físico perfeito. Ao abrir os e-mails, o choque: eles estavam tendo um caso! Havia desde sacanagens escritas pelo meu ex-marido, que dizia sentir tesão pelas mãos másculas e cheias de calo do personal e que adorava quando ele o “pegava” todo suado depois da malhação até declarações de amor do garoto, que dizia estar envolvido como nunca e cobrava meu ex para se separar de mim o quanto antes. Quase morri do coração! Eu tremia tanto nessa hora que até deixei o laptop cair no chão. Numa das mensagens mais recentes, escrita pelo meu ex, eles marcavam de se encontrar naquela mesma noite na academia. Anotei o horário do encontro e fui para lá, de carro, sozinha. Não tive coragem de contar nem para minha melhor amiga, minha irmã mais nova. Agi totalmente na impulsividade e fui. Fiquei meio que escondida esperando o carro dele. Enquanto esperava, só sabia rezar e pedir a Deus que nada daquilo fosse verdade, queria ter a convicção de que tudo aquilo era um sonho — um pesadelo — que tudo não passava de ilusão da minha cabeça.

Duas horas depois, avistei o carro do meu ex-marido saindo pela garagem da academia. Segui. Eles pararam num prédio bem próximo, um local de aparência simples, um prédio misto com apartamentos residenciais e escritórios que eu supus ser a casa do personal. E estava certa. Eles estacionaram o carro na rua, bem em frente ao prédio, e entraram pela portaria. Esperei uns 20 minutos ainda, até ter a certeza de que eles já haviam subido e fui atrás. Joguei uma lábia no porteiro, disse que era prima do personal e ele acabou me deixando subir. O prédio era simples mesmo, parecia não ter muito rigor com a segurança.

Enfim, subi até o andar que o porteiro me informou. Eu tremia por dentro, sentia medo, raiva, mas segui em frente. Queria ver com meus próprios olhos, até para ‘cair a ficha’. Apertei a campainha e adivinha quem abre a porta? Meu ex, só de bermuda da malhação e já sem camisa. Fiquei em choque, as palavras mal saíam da minha boca. Ele ficou pálido quando me viu e perguntou o que eu fazia ali. Disse que fui constatar quem ele era. Ele ainda tentou disfarçar, dizendo que foi buscar um suplemento alimentar na casa do personal. Mas eu já fui logo falando que já sabia de tudo, que já tinha visto seus e-mails todos naquele mesmo dia pela manhã. O personal, que estava no banho, logo saiu para ver o que acontecia. Quando me viu ali, parada na sua porta, pareceu bem constrangido e falou que ia sair para nos deixar conversando mais à vontade. Chorando muito, disse que não precisava porque quem ia embora era eu! E sai correndo daquele lugar. Voltei pra casa, vi meus filhos dormindo com a babá (quase morri de tanto chorar ao vê-los ali, tão ingênuos, sem saber do ‘furacão’ que passava por nossa casa) e me tranquei no meu quarto. Meu ex-marido, que chegou logo em seguida, ainda tentou entrar para conversar, mas não abri a porta. Eu não queria ver ninguém naquela hora. Só consegui ligar para minha irmã e pedir que ela passasse lá para levar meus filhos para a escola na manhã seguinte, pois eu não tinha condições. E só revelei que algo havia acontecido no meu casamento e fiquei de explicar melhor depois. Tomei dois calmantes e, com muita dificuldade, dormi. Acordei no outro dia e me deparei com meu ex na sala, sentado me esperando, com cara de quem não tinha dormido nada. Estava tão revoltada, diminuída, machucada que, ao vê-lo, a minha reação foi começar agredi-lo verbalmente. Xinguei-o de todos os nomes mais feios e depreciativos que se possa imaginar. Perguntei por que fez aquilo com nossa família! Lembro de ter dito, aos berros, que preferia ter sido trocada por outra mulher do que por um macho barbado e cheio de pelos. Uma das coisas mais doloridas numa traição é imaginar a cena. E no meu caso, além da dor, imaginar os dois juntos me dava também ânsia.

Quando me acalmei um pouco, ele acabou se explicando, disse que sempre teve uma queda por homens, desde a época da faculdade, mas que nunca teve coragem de me contar, até para me poupar. E disse ainda que isso aflorou depois que conheceu esse personal, um rapaz de 23 anos. Olha isso! Hoje tenho convicção de que meu ex me usou, desde a época da faculdade, para disfarçar a sua bissexualidade ou homossexualidade. Nem sei mais no que se enquadra e nem quero saber, não me diz mais respeito. Ele confessou que sempre me traía com homens desde que começamos a namorar. Sem pensar duas vezes, falei que queria me separar o mais rápido possível. Eu não merecia toda aquela humilhação! Ele ainda teve a cara de pau de dizer eu não queria se separar de mim! Mas não tinha volta. No mesmo dia ele arrumou suas malas e mudou-se para um apart-hotel.

Oito meses depois, já estávamos separados no papel. Meus filhos sentem ainda a falta do pai, mas eu nunca lhes contei o verdadeiro motivo da nossa separação. Falei que nos separamos porque o papai trabalhava demais e tinha que viajar muito. Não quero que meus filhos saibam que o pai deles gosta de homem. Até hoje ele não se assumiu perante todos. Não tive coragem de falar para outras pessoas, por pura vergonha mesmo. Além da dor de ter sido enganada, existe a frustração de saber que meu marido preferiu um cara cheio de músculos ao meu corpo delicado e minha pele fina de mulher — e eu sou do tipo bem feminina. É uma sensação muito estranha. Eu e ele quase não conversamos também, a não ser o indispensável no que diz respeito aos nossos filhos. Pelo que sei, ele continua mantendo um caso com esse personal. Procurei ajuda espiritual para retomar minha vida. O trabalho me ajudou bastante também, foquei totalmente na minha empresa de decoração de casamentos pra tentar esquecer tudo.

Há um ano e sete meses, conheci na festa de aniversário de uma amiga meu atual namorado, um economista muito charmoso, inteligente e companheiro. Ele ainda não sabe o real motivo da minha separação, talvez um dia eu até me abra com ele, mas acho que ainda não é o momento. Estamos namorando, meus filhos o adoram e eu estou feliz tentando refazer a minha vida.”

Fonte: Marie Claire
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