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A Homofobia nossa de cada dia: essa PARTIDA ainda não acabou


Rildo Véras Martins[1]

Bola na trave não altera o placar 
Bola na área sem ninguém pra cabecear 
Bola na rede pra fazer o gol 
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?
 (Samuel Rosa e Nando Reis)


No século XXI a humanidade tem várias conquistas a celebrar:  a internet diminuiu distâncias aproximando culturas, o homem viajou até a lua, desbravou oceanos chegando aos recantos mais longínquos, a medicina tem avançado consideravelmente, pela primeira vez uma mulher é eleita para conduzir os destinos do nosso país. Não obstante todas as conquistas, no campo da sexualidade humana continuamos vivendo sob os olhos da “Santa Inquisição” (que de santa mesmo só tinha o nome), de modo que uma pessoa é julgada boa ou má, portadora de direitos ou não, principalmente a partir da sua orientação sexual e identidade de gênero.

Em tempos onde os direitos humanos precisam ser diariamente reafirmados como bandeira primordial da nossa democracia, vale refletir sobre o conceito de violência. Necessário se faz entender a violência como algo que se expressa de diversas formas. Para além da violência física, violência é também a negação de direitos, é a pressão psicológica sobre determinada pessoa, é o silêncio que grita, é o olhar que despreza, é a piada que discrimina e é também o grito em coro de uma torcida em um estádio de futebol tentando desqualificar seu adversário a partir da ótica heteronormativa.

A agressão sofrida pelo jogador do Sport Clube do Recife, Ciro, no clássico contra o Santa Cruz, na Ilha do Retiro, no domingo, 03/04 simboliza a homofobia internalizada na sociedade, aquela que ao mesmo tempo em que é negada fica a espreita de uma possibilidade para mostrar suas garras (ou seria a língua ferina da cobra coral?). Hoje o preconceito é mais difícil de ser enfrentado porque é velado, uma vez que está na moda o ser politicamente correto. Assim dificilmente as pessoas se assumem enquanto preconceituosas. Isto posto, não está em questão a orientação sexual do referido jogador. Não sou especialista em futebol, mas é público e notório que o Ciro é um jogador aclamado por sua torcida, desempenha bem seu papel enquanto atleta e, portanto, merece no mínimo um pingo de respeito inclusive dos seus adversários. O que ele f az na sua intimidade ou deixa de fazer diz respeito unicamente ao próprio, agora quando a discriminação se torna tão GRITANTE é impossível calar. A questão foge do foro íntimo e passa a ser uma chaga social que precisa ser sanada.

A bola da vez é: respeitar as diferenças

Infelizmente ainda não somos educados para respeitar as diferenças. Por mais que sejamos todos diferentes uns dos outros, nossa educação ainda é padronizada, de modo que o que foge à norma historicamente estabelecida (heteronormatividade hegemônica) não será visto com bons olhos. Deste modo, não somente LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) têm seus direitos violados, como os/as negros/as, os/as indígenas, os/as ciganos/as, aqueles e aquelas que professam uma religião não cristã, a exemplo dos povos de terreiro, as mulheres, os/as idosos/as, as pessoas com deficiência, os ateus...

O futebol, em sua essência é diverso, plural. O que seria de um clube de futebol se não existisse o seu adversário para a competição? Assim, é inadmissível qualquer manifestação de preconceito e discriminação por parte de quem quer que seja, afinal de contas o meu time precisa do outro para mostrar sua superioridade ou onde é necessário melhorar. Está mais do que na hora de entrarmos em campo para fazermos o gol do respeito a todas as diferenças.

Fazer do limão uma limonada

Em face do lamentável acontecimento acima descrito muita coisa pode ser feita. De nossa parte iremos aproveitar a oportunidade para dialogar com o diretor da torcida Inferno Coral, Sr. Rogério Guedes acerca da construção das políticas públicas para a população LGBT no Estado de Pernambuco. Lhes entregaremos cópias das duas leis municipais (de Recife) que punem a discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero, do decreto do Exmo. Sr. Governador de Pernambuco sobre o uso do nome social de travestis e transexuais, bem como outros materiais educativos, bem como solicitaremos que gritos de guerra com teor homofóbico não se repitam mais nos estádios.

Paralelo a isso, mas não menos importante, estamos negociando com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o lançamento do selo “Faça do Brasil um Território Sem Homofobia” para provavelmente em maio.

Oxalá tais ações nos ajudem a continuar indo aos estádios, torcer por nossos ídolos com a bandeira do nosso time em um mão e a do respeito às diferenças na outra. Para finalisar, nada mal parafrasear Fernando Pessoa:

“O AMOR é que é essencial.  
O sexo é só um acidente.  
Pode ser igual  
Ou diferente.  
O homem não é um animal:  
É uma carne inteligente,  
Embora às vezes doente”.

[1] Sociólogo, pós-graduando em gênero e diversidade (UERJ), Assessor Especial do Governador de PE para Diversidade Sexual.
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