"Desci meus lábios experientes e meu bigode espesso fez as honras da casa, amornando aqueles lábios infantis desejosos de serem tocados com carinho, humildade e respeito. Minha língua abriu espaço e ganhou a textura de uma carreira de dentes que ainda emanavam o perfume e a doçura do leite materno. Era o começo do beijo no asfalto. Demos início a uma luta de espadas em que ambos sairíamos vencedores, triunfantes. E a fusão de nossas línguas, lábios, bocas, lágrimas, calor e inocência selou o batismo de duas almas errantes, onde a alma de uma criança-homem agora ganhava o aconchego das nuvens de algodão, enquanto a outra alma, aquela do quarentão-decadente, tivera a derradeira chance de virar a última carta que revelava o mais puro amor que pode existir entre dois seres, independente dos sexos escolhidos nessa ou em outras existências que certamente serão vividas. Meu beijo naquele garoto abriu as portas do seu Paraíso prometido. A coragem do meu ato puro naquela criança inocente selou para sempre dentro do meu peito arfante o anseio pela esperança de um recomeço."
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