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Travesti aprovada em doutorado

Travesti aprovada em doutorado fala ao Mix sobre a realidade de trans em ambientes acadêmicos
Por Irving Alves


No dia 4 de janeiro, o jornal "Folha de São Paulo" publicou uma matéria contando a história da cearense Luma Andrade, que seria a primeira travesti a entrar num curso de doutorado no País, segundo informações da ABGLT.

Histórias como a de Luma, que resolveu moldar seu futuro no ambiente acadêmico, ainda são raras, mas felizmente existem casos parecidos. A potiguar Leilane Assunção, 27 anos e também travesti, foi aprovada em dezembro de 2008 para o doutorado na área de Dinâmicas sociais, práticas culturais e representações, oferecido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Graduada em História e aprovada para o doutorado em 2º lugar, Leilane conversou com o Mix e falou sobre as poucas chances oferecidas pela sociedade aos transexuais, das dificuldades enfrentadas no cotidiano e de seus planos para o futuro.

Por que resolveu investir na carreira acadêmica?
Rolou aquela história de vocação, sabe? Aliado a isso, eu almejo a estabilidade e respeitabilidade da condição de intelectual. Desde a adolescência, eu pensava na sala de aula, mas na metade da graduação percebi as potencialidades da carreira acadêmica. Quero voltar à sala de aula, mas como professora de nível superior.

Então você já deu aulas. Como era a reação dos alunos à sua presença como professora?
Ensinei em muitas escolas no período anterior à minha transformação. Depois dela lecionei no cursinho do Diretório Central dos Estudantes da UFRN (que prepara alunos de baixa renda para o vestibular). Eu ensinava História Geral e foi muito legal. Eles me tratavam como professora e consegui conquistar até os mais arredios.

Qual será sua linha de estudo no doutorado?
Minha pesquisa está voltada para o estudo da complexidade, a formação dos sistemas de representações intelectuais e científicas, assim como a problemática das fronteiras e hierarquias entre os saberes, o estatuto de cientificidade ou não dos saberes. Isso será feito com base na obra de Oswald Spengler, filósofo alemão que viveu entre 1880 e 1936. O seu principal livro tem o sugestivo título de "A decadência do Ocidente". Ele era simpatizante das correntes nazistas e racistas vigentes na época, mas depois rompeu publicamente com elas e foi até perseguido por isso.

Você enfrenta preconceito dentro da Universidade? Como lida com isso?
Enfrento quase todos os dias. Às vezes são pequenas atitudes, quase imperceptíveis. Em outros momentos, rola de forma mais escrachada mesmo, com agressões verbais.

Por parte de quem?
De toda sorte de criaturas. Funcionários, professores, seguranças, estudantes e gente de fora do campus. O preconceito está em todos os lugares, ele insiste em se mostrar às vezes nas situações mais inusitadas.

E você não denuncia?
Cara, se eu for denunciar (a quem?) tudo o que escuto nos corredores da UFRN, vou desprender uma quantidade muito significativa de tempo e energia com situações e pessoas que não merecem esse desgaste.


Conhece outras travestis que investem nos estudos? A quê você credita o baixo número de travestis com alto nível de escolaridade?
Conheci uma que entrou em Letras na UFRN, mas se deslumbrou com o mundo lá fora e hoje é cabelereira. Em primeiro lugar, o preconceito com a travesti é bem maior que com o gay. Para a sociedade, a travesti representa, no meu entender, algo muito mais ameaçador, na medida em que ela rompe com os ditames estéticos do corpo. "Pevertendo-os", ela lança um desafio sobre o alicerce biologicista-cristão do nosso pensamento. E aí quando uma mona novinha, tipo 14 ou 15 anos, decide virar travesti, ela geralmente tem que sair de sua casa. O que lhe sobra? Qual é o comércio ou casa "de família" que vai aceitá-la, salvo raras exceções? Sobra a rua e o deslumbramento com o "dinheiro fácil".

O universo LGBT está presente em seus estudos?
Não, mas tenho preocupações de cunho social e ético nessa questão, até porque a militância gay de Natal é completamente alienada e politicamente esvaziada de sentido. Mas o professor Alípio Souza Filho, da UFRN, me falou de um projeto de educação ético-cidadã para as travestis e quero muito participar. Esse grupo tem tudo para fazer uma militância responsável, construtiva e não alienante.

Como você vê seu futuro?
Quero ser professora em universidade pública, mas me vejo também envolvida em militâncias pela ética e direitos humanos. Creio que o intelectual, mesmo que não escreva sobre questões como essas, não deve eximir-se da militância cidadã.

Fonte: Mix Brasil

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