Cena do filme
As relações marginais de homossexuais da terceira idade e uma Recife fictícia dominada pelas temperaturas abaixo de zero são temas dos dois curtas-metragens mais aplaudidos até agora pelo público do Cine PE Festival do Audiovisual, que nesta quarta-feira (28) entra em seu terceiro dia de competição. Filmados em 35 mm, “Bailão”, do mineiro Marcelo Caetano, e “Recife frio”, do pernambucano Kleber Mendonça Filho, disputam o troféu Calunga com outras 16 produções a serem exibidas no Teatro Guararapes, em Olinda, até o próximo sábado (1).
Casa noturna que há 15 anos recebe gays sessentões que dançam de rosto colado, o ABC Bailão, no centro de São Paulo, é o principal cenário do filme de Marcelo Caetano. “Quis falar sobre o amor e o prazer marginal desses homens, que em suas juventudes na década de 50 não podiam nem pensar em sair do armário”, explica o diretor. “A opinião de um dos meus entrevistados resume bem o que quero mostrar: para esses senhores, a liberação sexual veio muito tarde”.
Os cinco personagens que contam suas trajetórias nos 16 minutos de “Bailão” admitem que após tantos anos omitindo a opção sexual dos parentes e amigos, ficou difícil mudar “velhos hábitos”. “Cinemas pornôs, banheiros de bares e becos escuros no centrão acabam sendo os lugares mais frequentados na busca pelo sexo”, destaca o diretor. “A idéia de andar de mãos dadas com um namorado à luz do dia é muito distante. Muito são casados com mulheres, pais de família”.
Nesse contexto, o ABC Bailão é um dos poucos territórios livres para os homossexuais acima dos 60. “Hoje criou-se uma obsessão por beleza e corpos sarados na comunidade gay.Homossexuais idosos são personagens invisíveis, por isso me interessei em fazer esse registro”, diz Caetano.
Recife abaixo de zero?
Neve na praia de Boa Viagem, o Rio Capibaribe transformado em pista de patinação e repentistas cantando a saudade dos dias de sol na cabeça são algumas das cenas mostradas em “Recife frio”. Com 20 minutos de duração, o filme retrata em formato dos documentários do canal Discovery o que aconteceria com a capital pernambucana se a temperatura ficasse abaixo de zero.
“O curta tem um tom irreverente, mas existe uma pensata: a má ocupação do espaço urbano e a falta de amor que as pessoas têm pela nossa cidade”, explica o diretor Kleber Mendonça Filho. “Às vezes, com um dia bonito, o povo prefere ir andar no shopping a caminhar no calçadão de Boa Viagem”.
Recebido com aplausos e gritos entusiasmados pelo público local – que ocupou a totalidade do Teatro Guararapes durante a exibição – o curta é um dos favoritos do Cine PE.
Fonte: G1
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