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Pink money


por Mônica Pupo

Mercado gay cresce no Brasil e há muito espaço para expansão, mas os empreendedores precisam se livrar de preconceitos e clichês para aproveitar as oportunidades

Neste mês, mais precisamente no dia 6 de junho, a cidade de São Paulo será palco da maior Parada do Orgulho Gay do mundo. A expectativa é que mais de 3 milhões de pessoas participem da comemoração, sendo que aproximadamente 600 mil serão turistas vindos de todas as regiões do Brasil e de outros países. No ano passado, a Parada movimentou R$ 200 milhões em um fim de semana, ficando atrás apenas da Fórmula 1 no ranking dos eventos mais lucrativos, segundo dados da São Paulo Turismo (SPTuris), órgão oficial de turismo da capital paulista. A grandiosidade do evento e dos números não deixa dúvidas sobre o crescimento e a consolidação do universo – e do mercado – LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais).

O chamado pink money tem atraído a atenção de empresas de diferentes segmentos. Além do já consagrado roteiro de boates, bares e saunas, a cada dia surgem novos negócios voltados aos homossexuais, incluindo loja de roupa, editora, companhia de seguro, restaurante e até mesmo um pet shop. Mas, para se tornar gay friendly, não basta hastear uma bandeira do arco-íris na porta do estabelecimento. De acordo com especialistas, é preciso investir em produtos e serviços inovadores, planejados sob medida para as necessidades e desejos do público-alvo. O atendimento também deve ser priorizado: mais sensíveis ao desrespeito do que a média da população, os consumidores homossexuais também são conhecidos por serem exigentes, fiéis às marcas e bem informados.

Pesquisas indicam que o público LGBT também costuma consumir mais que o heterossexual. Como a maioria não tem filhos, sobra mais dinheiro – e tempo – para gastar com artigos culturais, produtos de grife e lazer. A indústria do turismo foi uma das primeiras a perceber essa oportunidade e, não por acaso, é a mais bem preparada do Brasil para atender à demanda LGBT. Segundo a Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes (Abrat-GLS), existem aproximadamente 50 agências e operadoras de turismo voltadas aos gays no País. Grandes redes hoteleiras – como Pestana, Othon, Accor e Golden Tulip – também se declaram gay friendly. “É evidente o crescimento do mercado e do turismo LGBT no Brasil e há um amplo terreno a ser explorado por empresas que queiram e saibam trabalhar com o segmento”, afirma Almir Nascimento, presidente da Abrat-GLS.

Reconhecido internacionalmente co mo destino gay friendly, o Brasil – e mais especificamente a cidade de Florianópolis – será sede do maior evento de turismo internacional LGBT do mundo. Trata-se da 29ª Convenção Global da IGLTA (International Gay & Lesbian Travel Association), principal entidade do segmento turístico LGBT do mundo. Agendado para 2012, o evento deve reunir 450 congressistas, sendo 70% estrangeiros vindos de todo o mundo. A capital catarinense, que foi eleita pelo jornal The New York Times como destino “Party & LGBT” de 2009, destacou-se perante as concorrentes – Berlim e Madri – e será a primeira cidade da América Latina a sediar o evento. A expectativa da Embratur e da Abrat-GLS é que a ocasião seja um marco no mercado turístico gay do Brasil. “A tendência é aumentar cada vez mais a demanda por produtos específicos e profissionais habilitados para atender esse público”, diz Nascimento.

Lançada no fim de 2009, a Câmara de Comércio LGBT do Brasil é outra iniciativa que reflete o crescimento do mercado gay no País. Inédita no País, a organização sinaliza novos tempos para os empreendimentos LGBT. “O mercado gay sempre existiu, mas agora é que estamos começando a abrir as portas novamente. E o primeiro passo é unir os empreendedores que se dedicam ao nosso segmento”, avalia Douglas Drumond, presidente da entidade. Atualmente com 100 associados, a Câmara tem como objetivo promover trocas de experiências, ações de marketing e eventos, entre eles o 1º Festival Gastronômico GLS de São Paulo, que acontecerá durante a semana da Parada do Orgulho Gay e terá participação de bares e restaurantes gay friendly da cidade.

Mas, afinal, o que caracteriza uma empresa gay friendly? Para Douglas Drumond, trata-se simplesmente de uma questão ideológica ao alcance de qualquer marca ou organização. “Uma borracharia, por exemplo, pode ser gay friendly, não precisa vender pneu nas cores do arco-íris”, exemplifica. Dessa forma, as organizações gay friendly se diferenciam pela ausência de preconceitos e clichês associados aos homossexuais. “Muitas vezes a discriminação acontece de forma sutil, mas não menos ofensiva, como olhares de lado. Se eu estou dentro do seu estabelecimento, disposto a gastar meu dinheiro, eu exijo bom atendimento”, explica Drumond, que também é empresário do ramo hoteleiro e de entretenimento.

Evitar a homofobia e banir toda e qualquer forma de preconceito no ambiente corporativo é um processo que ocorre “de dentro para fora”, segundo Laura Bacellar, coautora do livro Mercado GLS – Como obter sucesso com o segmento de maior potencial da atualidade (Ed. Ideia & Ação). “Ser gay friendly significa ter políticas de treinamento para que todos os funcionários saibam como tratar as minorias sexuais, além de ter políticas claras e explícitas de não-discriminação de seus funcionários gays e lésbicas, pois nenhuma empresa será gay friendly se discriminar seus próprios colaboradores”, diz Laura.

Na avaliação da autora, o mercado LGBT no Brasil ainda não está consolidado, apesar da crescente expansão. “Os empresários nem sempre aproveitam as oportunidades e só se lembram de fazer alguma ação específica às vésperas da Parada Gay, por exemplo. Sendo que esses milhões de pessoas estão por aí o ano inteiro, consumindo.” Além de escritora, Laura Bacellar também é uma empreendedora pioneira na edição de literatura LGBT no Brasil. Em 1998, ela deu início às Edições GLS, com a proposta de ocupar um espaço esquecido pelas grandes editoras. “Minha ideia era ter uma atitude aberta a respeito das minorias sexuais, já que o mercado editorial não se assumia diretamente. A Editora Record tinha um selo voltado aos gays, chamado Contraluz, mas era tão secreto e mal divulgado que eu devo ser uma das poucas pessoas que sabe disso”, comenta.

Dez anos mais tarde, em 2008, Laura fundou a primeira casa editorial lésbica – não só a única do Brasil, mas de toda a América Latina. Mais do que pioneira, a ideia de abrir uma editora com foco na literatura lésbica foi estratégica. “Em 2007, por exemplo, entre os mais de 30 mil títulos novos lançados no País, nem um tinha temática lésbica. Não é incrível ignorar um segmento que inclui 9 milhões de mulheres, 3 milhões se considerarmos as economicamente ativas e consumidoras de cultura?”, reflete a empresária. De olho nesse mercado, ela deu início à operação da Editora Malagueta, com o objetivo de “romper as barreiras e os preconceitos e abrir espaço para mostrar as lésbicas como realmente elas são: pessoas comuns, normais, legais, porém com a particularidade de gostar de outras mulheres”. Em dois anos de mercado, a editora – que aposta nas vendas on-line – já lançou cinco títulos próprios e comercializa uma média de 60 livros, praticamente tudo o que existe em catálogo sobre lesbianismo.
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Sobre Unknown

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